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Quando o ciúme se torna excessivo e patológico

Publicado originalmente no site da Sociedade de Psicodrama de São Paulo (SOPSP) - 2013/2015. Daniel Gulassa.

 

Sentir ciúme significa sentir a ameaça de perda do objeto/pessoa amado. O primeiro critério a ser levado em consideração pra avaliar se o ciúme está passando da conta é o contexto/cultura/época em que a relação está inserida. Outros indicadores estão relacionados ao nível de sofrimento, tempo gasto, risco gerado pelos comportamentos associados ao ciúme e em tentativas de controlar o outro, vasculhar desenfreado em busca de provas de traição, fracasso ao tentar cessar tais comportamentos, além de prejuízos profissionais, pessoais e financeiros.

 

A ilustração acima revela um sujeito sentindo ciúme da mulher com o próprio filho. O ciúme pode, na verdade, ser direcionado a qualquer sujeito/elemento amado, sentido como ameaçado por um terceiro que pode também ser uma pessoa, coisa ou ambiente. Pode haver ciúme de uma filha com uma amiga, de um irmão com um videogame, da mulher que vai à praia etc.

 

Em termos psicodinâmicos, o ciúme está associado do que se convencionou chamar de “triangulação”, ou seja, ao manejo da relação a três. Alguns teóricos atribuem o ciúme excessivo à má elaboração da triangulação primária pai-mãe-bebê, sendo esta reeditada em relações atuais (COSTA, 2010).

 

O tipo mais grave de ciúme é o chamado ciúme psicótico, que deve ser diferenciado do ciúme neurótico. O ciumento neurótico se baseia em algum comportamento real para justificar o ciúme (por mais desproporcional que seja), enquanto o psicótico não precisa de gatilho externo algum para desencadeá-lo.

 

Mas nem todo o ciúme é ruim: em “doses homeopáticas”, pode apenas significar que o outro tem importância e faz falta. Por isso não é necessariamente desejável que este sentimento complexo seja eliminado por completo.

 

O ciumento excessivo em geral só encontra alívio de seu sofrimento quando busca tratamento, em geral sob a forma de psicoterapia, com ou sem a ajuda de remédios. É comum que com sua melhora, num primeiro momento, haja uma reversão no quadro, ou seja, com seu parceiro agora sendo o ciumento. O ciúme permanece balizando a relação.

 

Resultados mais consistentes e duradouros costumam ocorrer quando o sujeito leva o tratamento até o fim e não apenas após reduzir ou cessar o ciúme. Interromper o tratamento precoce e unilateralmente, que ocorre frequentemente, pode significar apenas uma reedição da tentativa de controle que o sujeito tanto faz no ciúme, disfarçado em uma nova roupagem.

 

A melhora do ciúme pode ainda ser a oportunidade em se lidar com outros problemas antes ofuscados – e não diretamente referentes à relação de ciúme – como a baixa autoestima, inseguranças, problemas de ordem existencial etc.

 

Não é incomum também que o sujeito ao largar o ciúme, mesmo sem perceber, largue junto sua disponibilidade de estar inteiro num relacionamento. Talvez seja necessário aí um processo de reaprendizagem de como se vincular.

 

Finalmente, para um bom e completo tratamento de ciúme, não basta o cessar/diminuir tal comportamento – o sujeito deve aproveitar a oportunidade para compreender mais profundamente sobre como conduz suas emoções e se relaciona.

 

 

(Ilustração: Thiago Guedes)

danielgulassa@hotmail.com - tel. (11) 34425752 - R. Monte Alegre, 428, cj.76 - SP - capital. Copyright © 2012/2018 Daniel Gulassa. Reprodução com citação da fonte.

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